28 de maio de 2008

A irreverência de Paulo Bruscky


Fui ao MAC no dia 14 de Março, achando que seria mais uma daquelas exposições chatas obrigatórias. O que me ocorreu foi totalmente o contrário. Paulo Bruscky é um artista fantástico e eu simplesmente pirei na sua obra. Quando me dei conta a exposição tinha fechado e os seguranças estavam nos colocando para fora... Idéias que antecedem a obra de arte, jogos de linguagem e ironia. É isso que o público pode ver na exposição Ars Brevis. Trata-se da primeira mostra individual do artista pernambucano Paulo Bruscky, um dos pioneiros da arte conceitual no país. O nome da exposição deriva da efemeridade e da duração das obras, indo de encontro com um tema recorrente na produção do artista: o cotidiano. Os objetos do dia-a-dia são subvertidos de seu uso comum. O ferro de passar vira instrumento para criação da ferrogravura e o aparelho de fax se torna uma fotocomposição, onde é possível ler: “assim se fax arte”. As obras de Bruscky jogam com a interação entre o verbal e o visual, constituindo jogos de linguagem. Os livros compõem boa parte do acervo; mas não se tratam de livros comuns. Há o “Livro de Ar tista”, que é um tijolo de vidro, e o “Livro de pinturas”, onde as páginas estão no lugar dos pelos de um pincel. Um dos jogos de linguagem está na obra com o seguinte título: “Exposição de uma pessoa vestida sendo vista por uma pessoa nua sendo vista por várias pessoas vestidas numa exposição de nus”, de 1976. A produção do significado da obra de arte só se completa na mente do observador, que desempenha papel importante nessa construção de sentido, pois depende da observação do trabalho e da leitura de seu título. Essa dualidade entre o verbal e o visual também revela um lado irônico e bem humorado, como na obra “Quadro a óleo”, onde não se vê uma pintura feita com tinta de mesmo nome, mas latas de óleo de cozinha coladas na tela. A interação dos trabalhos de Bruscky não ocorre somente entre a obra e quem irá vê-la, mas também entre o artista e seu modo de produzir. Essa relação artista-máquina está no xerofilme, técnica criada pelo pernambucano, e que se trata da filmagem das fotocópias resultantes de sua interação com o aparelho. A relação artista-obra existe também para que se deixe claro que há um “eu” criador por trás de cada trabalho. Bruscky não quer se apagar no processo de construção do significado, já que na arte conceitual a idéia, o planejamento e as decisões possuem papel preponderante. Nas palavras de Sol LeWitt, artista conceitual americano, “a idéia torna-se uma máquina que faz arte”, e para que a idéia exista é necessário uma mente criadora. Exemplos disso é a obra “Registros”, de 1979, que mostra a atividade cerebral de Bruscky ao ouvir sons graves e agudos, e “Autum Raduum Retratum”, onde a caixa-craniana do artista é conseguida a partir de um aparelho de raio-x.




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