27 de maio de 2008

New York Dolls







Me lembro como se fosse hoje...Dia 10 de Março de 2008.Saímos da aula de modelagem naquela quinta-feira, e aquele dia parecia não passar. De jeito nenhum. Eu e a Jadhe fomos pra casa, e não conseguíamos parar de olhar para os ingressos do show: New York Dolls! Só de lembrar toda aquela correria para conseguir o ingresso R$20 mais barato, as brigas com os namorados, e as semanas que se seguiriam na pendura total, dá vontade de voltar no tempo e fazer tudo de novo! Mas voltando ao assunto, sei que foi dando a hora de irmos pro show, e passei na casa dela, e seguimos sentido Armênia, Zona Norte de São Paulo, onde aconteceria o show. No Hangar 110 pra ser mais exata. Deixamos o carro num estacionamento um pouco longe, mas foi R$10, e quanto menos gastarmos com isso, mais dinheiro sobraria pra cervejinha, que claro, logo foi providenciada na padaria mais próxima. Chegando na porta do Hangar, já começamos a entrar no clima do show. Não estava lotado, cheio, ou bombando como eu pensei que estaria, porque afinal de contas, era New York Dolls!! Sabe qual é a probabilidade de ver um show deles de novo no Brasil?? Se você considerar a idade de cada um (somando a idade todos deve dar uns 250 anos no mínimo!), que eles tem mais de 30 anos de carreira, tudo isso elevado à um alto teor de drogas e álcool consumidos continuamente, a probabilidade não deve passar dos 5%! Mas mesmo não estando tão cheio quanto eu pensei, estava um ambiente bacana, e é engraçado a capacidade que a gente tem de fazer amizades em filas. Algumas cervejas depois já estávamos lá dentro, e parecia um sonho. Um sonho que ao mesmo tempo que estava prestes a começar, isso me lembrava que estava prestes a acabar também. Mas agora pra quem não conhece muito, vamos ao que interessa. New York Dolls é uma banda seminal da inesquecível cena nova-iorquina do final dos anos 70, os Dolls foram fundamentais para a criação do movimento punk, tendo influenciado inclusive os emblemáticos Ramones. Com seu rock n’ roll descompromissado e empolgante (um "Rolling Stones junkie’ diriam alguns) e o visual chocante com cinco marmanjos totalmente em trajes femininos e maquiagens, a banda mesmo com sua curta trajetória de apenas dois discos, tornou-se um ícone da época. Os excessos não permitiram que a banda retornasse as atividades em 2004 com sua formação original, já que 3 dos integrantes originais faleceram, dentre eles o grande Johnny Thunders, guitarrista da banda que teve um melancólico e solitário final de vida. Mas David Johansen, Steve Conte e Sylvain Sylvain já valiam o ingresso e, como era de se esperar, lotaram a casa. E eu pensando que não ía. Apesar dos organizadores divulgarem que inúmeras mudanças seriam realizadas na casa, o Hangar 110 ainda se mostrou extremamente deficiente para receber apresentações desse porte: ventilação péssima (o que deixou o ambiente extremamente quente, eu e a Jadhe suávamos que nem tampa de marmita!), banheiro pequeno, bar insuficiente para atender o número de pessoas presentes (um único caixa para atender aproximadamente 800 pessoas, provocando uma fila enorme durante boa parte do evento), além da pobre acústica do local e da falta de estacionamentos suficientes. De qualquer forma, uma lenda do rock n’ roll subia ao palco naquela noite, e nem os problemas estruturais relacionados acima estragariam o histórico show. Foi muita sorte nossa estar lá. A abertura da noite ficou a cargo dos Forgotten Boys, banda bastante influenciada pelo New York Dolls e respeitada no cenário rocker paulista já há alguns anos. Apesar de cada vez mais profissional e entrosada, a banda mostrou que seu repertório vem perdendo força a cada novo disco. Depois do ótimo "Gimme More", a banda lançou um disco regular ("Stand by the D.AN.C.E") e algumas músicas do disco que a banda está finalizando atualmente foram apresentadas, mas não empolgaram a platéia, que a certa altura já demonstrava certa impaciência com a permanência da banda no palco. Qualidade e presença de palco a banda tem, como mostrou no cover de “1970” dos Stooges já no final do show. Só falta resgatar alguma coisa que acabou ficando para trás com o passar dos anos e que claramente está fazendo falta para os Forgotten Boys.

Já passava das 23h, de várias cervejas e vodkas quando as cortinas se abriram e Syl Sylvain entrou acenando para a platéia, que imediatamente foi à loucura. Era o início da festa e logo os primeiros acordes de "Babylon" foram ouvidos e David Johansen de jaqueta, babylook, calça justa e lenço na cintura tomou conta do palco, cantando e rebolando como nos áureos tempos. Sem dúvida alguma, a figura central do show foi Johansen, que se mostrou um frontman perfeito, empolgado, carismático, sorrindo o tempo todo e mostrando a satisfação de ainda conseguir incendiar uma platéia mesmo depois de 30 anos de carreira. Os demais integrantes da banda mostraram muita competência e segurança, e principalmente o baixista Sammi Yaffa, provavelmente pela experiência adquirida à frente do grande Hanoi Rocks nos anos 80. Além de técnica, o baixista mostrou muito carisma, dividindo o microfone com Sylvain. Por sinal, Sylvain parecia mais empolgado agora do que na época clássica da banda, talvez por não ter mais que dividir as atenções com Thunders. Competente nos backing vocals e brincando constantemente com a platéia e com os demais integrantes, Sylvain mostrou estar vivendo intensamente aquele momento.O repertório foi fantástico, cobrindo os clássicos dos dois primeiros discos ("New York Dolls" de 1973 e "Too Much Too Soon" de 1974) e alguns destaques do disco de retorno da banda ("One Day It Will Please Us To Remember Even This" de 2006). Foi emocionante e inesquecível ver e ouvir clássicos imortais do rock como “Puss and Boots”, “Human Being”, “Jet Boy”, “Subway Train”, “Stranged in the Jungle”, “Looking for a Kiss”, “Lonely Planet Boy” e “Trashed”. Após uma hora e meia de show, a banda anunciou o fim da noite e deixou o palco, mas ninguém arredou o pé do Hangar. Todos sabiam que o melhor estava por vir. E em poucos minutos a banda voltou ao palco para tocar seu maior clássico. “Personality Crisis” foi cantada em uníssono pela platéia, que lavou a alma e viu a banda se despedir abraçada no palco. Platéia suada, cansada, acabada, mas todos com um enorme sorriso no rosto. Em tempos onde as bandas se preocupam mais com suas roupas e cortes de cabelo do que com a música, o New York Dolls mostrou que vestidos de mulher e com penteados epalhafatosos fizeram o que há de melhor em matéria de Rock n’ Roll. E que ainda podem fazê-lo por um bom tempo. Pra finalizar, eu consegui pegar o que era pra ser uma flor que o David jogou, mas graças aos meus 1,53m consegui pegar apenas as folhinhas, pois veio um sujeito mais alto e pegou a minha flor bem em cima de mim. Mas saí satisfeita. O projeto de flor continua e continuará guardada comigo para sempre desse show que pra mim foi mágico, assim como o ingresso, que não poderia ter outra cor: rosa. Consegui memorizar cenas que certamente ficarão apenas na minha memória, mas ver o David e o Steve de pertinho já valeu o banheiro ruim, o estacionamento longe, o bar entupido de gente e o calor. Foi incrível ver que mesmo após 30 anos, as calças justas, as camisetas, os lenços, os cabelos bem cortados e ornamentados (um pouco mais brancos talvez), as atitudes "rock" continuam em alta e fazendo a "moda" que meu coração adorou ver e cantar naquela noite. Eu e Jadhe chegamos em casa totalmente esgotadas, e fomos direto para a faculdade no dia seguinte. Mas estávamos de alma lavada.


Foto do show

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